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Astrologia e Influência Digital: o que mudou em uma década

Artigo/Trabalho de Conclusão de Curso da Pós Graduação em Influência Digital: Estratégia e Conteúdo, cursado na PUC/RS, concluído em julho de 2020*

Apresento abaixo o artigo que foi meu Trabalho de Conclusão de Curso da Pós Graduação em Influência Digital: estratégia e conteúdo que realizei em 2019/2020. Fiz uma atualização do meu primeiro Trabalho de Conclusão de Curso da pós graduação em Jornalismo que terminei em 2011 na Faculdade Cásper Líbero Clique aqui para acessar a monografia realizada em 2011.

Além de ambos cursos de Pós Graduação, também sou mestre em Comunicação e você pode ler minha dissertação de mestrado Narrativas do Céu: A presença da Astrologia nos Meios de Comunicação, defendida em 2015 na Faculdade Cásper Líbero: clique aqui para ler minha dissertação de mestrado.

(*ORIENTADORA: Camila Garcia Kieling. Trabalho aprovado com nota 10,0 (Dez).)

Astrologia e Influência Digital: o que mudou em uma década

Resumo

Este trabalho tem por objetivo analisar a presença da Astrologia nas mídias digitais, sob o ponto de vista da influência, realizando uma atualização de pesquisa anterior sobre o tema, realizada em 2011 como Trabalho de Conclusão de Curso da Pós Graduação Lato Sensu em Jornalismo (Faculdade Cásper Líbero/SP). Na época, as redes sociais estavam em desenvolvimento e os astrólogos entrevistados as viam mais com o foco de marketing digital do que compartilhamento de conteúdo e influência, ao passo que seu público já notava diferenças e mudava sua relação com a Astrologia. Passada uma década, entrevistas foram realizadas novamente e este artigo apresenta a comparação entre a visão anterior e a atual, demonstrando o que mudou ao longo deste período.

Palavras-chave: Influência Digital. Mídia Digital. Astrologia. Comunicação.

Introdução

            O presente trabalho tem como tema a Astrologia e sua presença nas mídias digitais, especialmente com foco em produção de conteúdo e influência digital. Ele é inspirado em pesquisa anterior, realizada em 2011, como trabalho de conclusão de curso da pós-graduação lato sensu em Jornalismo (Faculdade Cásper Líbero/SP), Astrologia nas Redes Sociais: uma nova forma de compartilhar o céu, que foi publicada no livro Coleção Comunicação em Cena, volume 2 (CASTRO, 2013, p. 207-224).

            Na época, a relação entre Astrologia e redes sociais começava a ser tecida e a pesquisa foi baseada em minha experiência pessoal, associada a entrevistas realizadas com astrólogos e usuários das mídias digitais que se interessavam pelo tema. Partindo de observações pessoais, tinha por objetivo verificar minhas impressões e saber qual a dimensão das mesmas e sua repercussão na prática.

            Como resultado da pesquisa realizada em 2011, quando a Astrologia ainda começava a ganhar força em redes sociais como Twitter e Facebook, encontrei mais do que buscava. Percebi que tínhamos – astrólogos e quaisquer outros profissionais – ferramentas extremamente poderosas em mãos: as redes sociais. Através delas, poderíamos comunicar nosso conteúdo de uma nova maneira, mais acessível e capaz de chegar com mais facilidade ao público.

            A pesquisa de 2011 confirmou muito do que minha experiência pessoal já indicava no sentido de que as redes sociais eram um novo canal de comunicação da Astrologia, capaz de aproximar as pessoas do tema, por criar uma nova forma de falar sobre isso, em termos de conteúdo e linguagem. A relação direta entre astrólogos e seus leitores passou a tornar o assunto mais próximo de suas vidas pessoais e a linguagem mais simples e ao mesmo tempo mais objetiva e profunda passou a fazer com que as pessoas se sentissem mais à vontade com o tema e notassem quer era possível aplicar tudo isso em suas vidas diárias.

            O conteúdo astrológico presente nas redes sociais passou a ser uma espécie de transição entre os horóscopos genéricos e um mapa astrológico completo, individual e personalizado, fazendo essa ponte. Minha grande conclusão foi que as redes sociais representavam um recurso importante na divulgação de uma Astrologia mais prática, completa e possível de ser utilizada por todos, com toda sua complexidade e abrangência. Na ocasião, me surpreendi positivamente, notando que havia muito mais a ser explorado para que a Astrologia pudesse ser cada vez mais comunicada, levando mais informação às pessoas sobre o que ela é de fato. Percebi, assim, que as redes sociais não eram apenas uma ferramenta de marketing, mas sim um canal eficiente de comunicação, com diversas novas possibilidades.

            Esta pesquisa foi um passo importante para um projeto que surgiu em seguida. Em 2012, ingressei no programa de Mestrado em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, para pesquisar mais a fundo a relação entre Astrologia e meios de Comunicação. Eu tinha como hipótese que a presença de conteúdos mais genéricos sobre Astrologia, como os horóscopos, aumentava o preconceito existente com relação ao tema. Essa hipótese foi confirmada em parte, já que as pesquisas indicaram que o horóscopo é por um lado, um gerador de preconceito com relação à Astrologia. Porém, ele é também responsável por apresentar a Astrologia para muita gente sendo, em muitos casos, o primeiro contato e uma abertura para quem se interessa em saber mais sobre o assunto. Em 2015, defendi minha dissertação de mestrado Narrativas do Céu: a presença da Astrologia nos Meios de Comunicação, que apresentou a Astrologia como forma de compreensão da vida humana e sua relação com a mídia. Tracei o percurso histórico da Astrologia, bem como na mídia, desde o início dos almanaques e horóscopos de jornais e revistas, até as redes sociais. Apresentei minha experiência como astróloga de programa de televisão e colunista de sites, até a atuação em redes sociais, o que permitiu uma comparação entre os meios tradicionais de Comunicação e as então chamadas novas mídias. Quando fiz mestrado, ainda não tinha canal no YouTube nem podcast, lançado em 2018 e que foi o primeiro sobre Astrologia no Brasil.

            O objetivo da presente pesquisa é fazer uma atualização das investigações anteriores, contemplando o que mudou desde o início da minha pesquisa antes de 2011, até os tempos atuais. Novas mídias digitais surgiram de lá para cá e, enquanto alguns comportamentos e novidades da época se firmaram e amplificaram, muita coisa mudou. Novamente, parto da experiência pessoal e também de entrevistas realizadas com astrólogos e usuários das diversas mídias digitais e apresento aqui a atualização do tema, refletindo sobre o que mudou na última década na relação entre Astrologia, redes sociais e, especialmente, Influência Digital.

Uma breve história da Astrologia

            Nossos antepassados olhavam para o céu e percebiam relações entre os movimentos e ciclos celestes e os acontecimentos terrestres, desde as fases da Lua e estações do ano até acontecimentos climáticos, políticos e sociais. A partir dessas observações, passaram a fazer cálculos para que pudessem compreender e prever tais movimentos celestes, o que originou a Astronomia que, por muitos séculos era ligada à Astrologia, como uma única área do conhecimento. Grandes astrônomos da história, como Johannes Kepler (27/12/1571-15/11/1630), por exemplo, eram astrólogos. Reis e rainhas tinham seus astrólogos e a Astrologia era considerada ciência.

O que é Astrologia

Astrologia é o estudo dos ciclos celestes e sua relação com o que acontece na Terra, incluindo o comportamento humano e os eventos sociais, políticos, econômicos, climáticos e outros.

            Até um século atrás, era mais praticada a partir dos ciclos e seus desenvolvimentos. Hoje em dia, a utilização mais comum da Astrologia é a partir de um mapa astrológico individual, calculado a partir de data, horário e local de nascimento de uma pessoa. Um mapa astrológico leva em consideração Sol, Lua, os planetas, os doze signos, as doze casas astrológicas e diversos outros pontos e relações que nunca se repetem.

Astrologia na mídia no Brasil: da mídia impressa à Internet

            Astrologia surge na mídia brasileira na forma de horóscopo, com previsões diárias, semanais ou mensais, genéricas, para os doze signos. Ficou bastante popularizada nos anos 1970, inclusive em programas de rádio e televisão. O horóscopo, bastante genérico e superficial é, desde então, um divulgador e ao mesmo tempo gerador de preconceito com relação à Astrologia.

            Com o surgimento da Internet, o que já acontecia nas outras mídias passa a ser reproduzido e os horóscopos chegam aos grandes portais. Mas em seguida surgem sites e blogs e os astrólogos passam a criar os seus espaços, onde podem incluir conteúdos mais profundos sobre Astrologia, apresentando melhor seu trabalho. Depois, surgem as redes sociais, nas quais astrólogos e público passaram a interagir.

            Apesar disso, até hoje a maior parte das pessoas ainda conhece apenas uma pequena parte da Astrologia, limitada aos doze signos e o horóscopo. Existe, ainda, muito preconceito e uma visão mais mística ou esotérica sobre o assunto, apesar de toda técnica e complexidade astrológica, que inclui muito estudo, prática e cálculos matemáticos.

Astrologia nas redes sociais

            Inicialmente, a Internet não trouxe grandes mudanças para a Astrologia, já que os grandes portais foram apenas uma nova plataforma para reproduzir o mesmo conteúdo. Mas, com o passar o tempo, a Astrologia ganha espaço nas redes sociais. Os posts sobre o céu do dia passaram a se tornar frequentes e mais aplicados à vida cotidiana das pessoas. Mais gente passou a ter acesso à mais informação disponível de diversas áreas e a Astrologia ganhou com isso.

            Além de permitir que os astrólogos postassem seus conteúdos com mais autonomia, as redes sociais passaram a levar conteúdo para as pessoas que, de forma muitas vezes passiva, recebiam posts e textos. Assim, pessoas que jamais buscariam Astrologia passaram a receber seus conteúdos por fazerem parte de comunidades e perfis. Os interessados pelo tema passaram a acompanhar mais de um astrólogo e isso permitiu que o público leigo notasse semelhança no que astrólogos diferentes postavam – e ainda postam – em suas redes sociais, o que passou a ser uma indicação de que havia algum embasamento para que tais previsões fossem feitas.

            A internet possibilitou que os astrólogos tivessem mais acesso a livros e obras astrológicas importantes, até então apenas em outros idiomas e inacessíveis e permitiu ao público acessar o conhecimento e conteúdo astrológico sem ser por sua narrativa mais resumida, o horóscopo, ou indo a uma consulta astrológica. Isso porque, até então, os poucos livros disponíveis no Brasil eram voltados a quem já estudava o tema e pouco conteúdo era voltado ao público leigo.

             As redes sociais também permitiram maior interação dos profissionais de Astrologia com seus colegas e seu público, o que ampliou horizontes. Na pesquisa de 2011, esse foi apontado pelos astrólogos entrevistados como o maior benefício das redes sociais para a Astrologia. Na época, astrólogos também viam as redes sociais como uma boa forma de fazer marketing e divulgar seus atendimentos e cursos.

            Em 2011, o público leigo entrevistado citou muito a questão do livre acessos aos conteúdos de Astrologia, maior visibilidade dos profissionais, mais fontes de informação e estudos. Para boa parte dos entrevistados da época, ficou mais fácil obter informações e ter acesso ao conteúdo astrológico voltado aos leigos. Até então, só podiam ter acesso a parte dessas informações em cursos ou consultas com astrólogos, mas sempre focadas em seus próprios mapas pessoais.

            Com imediatismo nas informações e mais gente falando sobre o assunto, a Astrologia ganha visibilidade e se aproxima das pessoas interessadas pelo tema. A maior parte dos entrevistados, em 2011, falaram sobre o fato da Astrologia ter se tornado algo mais concreto, crível e passível de aplicação no cotidiano. Citaram, ainda, a maior profundidade no conteúdo que, até então, era restrito na mídia aos horóscopos.

            Assim, as redes sociais criaram uma nova forma de fazer horóscopo e de falar sobre Astrologia, aproximando o público dos profissionais. Passou a ser, também, uma forma educativa de falar sobre um tema até então tão hermético e complexo.

Do Orkut aos Podcasts

            A Astrologia aparece nas redes sociais digitais com o extinto Orkut (24/01/2004-30/09/2014), a primeira a ter comunidades voltadas ao tema na Internet. Astrólogos se reuniam virtualmente para trocar ideias e conhecimento sobre o assunto e leigos também participavam das comunidades sobre Astrologia, especialmente tirando dúvidas sobre seus próprios signos e mapas. No caso do Orkut e, depois, do Facebook  (lançado em 2004 e ainda em atividade), amigos de infância ou de outras áreas dos astrólogos começaram a acompanhar os posts e isso amplia a quantidade de leitores sobre o tema, muitos dos desenvolveram algum interesse sobre o assunto.

            Esse formato muda com o surgimento de redes como Twitter (lançado em março de 2006)e Facebook, que passam a ter posts sobre o céu de cada dia. A velocidade e a troca aumentam e o público pode testar e aplicar na prática o que astrólogos compartilham em suas redes sociais. Um céu em tempo real, traduzido constantemente ao público leigo.

            Mais recentemente, surgem outras redes sociais, como Instagram (lançado em outubro de 2010), na qual o formato muda um pouco, mas segue reproduzindo a fórmula criada anteriormente, com posts sobre o céu e cada dia, com imagens que representam o céu do momento. Os canais de Astrologia no YouTube (criado em 2005) também ficam mais frequentes na última década, com horóscopos mais completos do que aqueles apresentados na Televisão ou no Rádio e também como mini aulas gratuitas e acessíveis ao público.

            Mais recentemente, foram criados os podcasts sobre o tema. O primeiro podcast de Astrologia do Brasil é o Céu da Semana com Titi Vidal, criado em 2018 e produzido pela Deezer[1]. Entre 2019 e 2020, diversos novos podcasts sobre o tema foram criados.

(Observação/atualização importante pós-conclusão deste artigo: o Podcast Céu da Semana da Deezer foi apresentado por mim até fevereiro de 2021, quando estreei o Podcast Astrológicas – Globo/Gshow/Globoplay – em parceria com a astróloga Isabel Mueller. No Podcast Astrológicas, temos 3 quadros/episódios semanais: O Céu da semana, com as tendências astrológicas da semana, o Astrologuês, no qual traduzimos temas astrológicos importantes e/ou apresentamos temas diversos sob o olhar da Astrologia, e o Café com Astros, no qual entrevistamos astros e talentos tendo seus mapas astrológicos natais em mãos e a Astrologia como fio condutor. Mais uma grande conquista para a Astrologia, um podcast vinculado a uma grande empresa de Comunicação, incluindo conteúdo de qualidade, mais profundo e muito além do horóscopo).

            Importante ressaltar que, apesar do conteúdo nas diversas redes sociais ser muito semelhante, cada uma delas tem suas especificidades em termos de conteúdo e linguagem, e públicos específicos, o que também gera um grande desafio para que os astrólogos sejam multimídia ou transmídia.

            Assim como outras áreas do conhecimento, a Astrologia ganhou muito com isso. Mas, assim como também acontece em outras áreas do conhecimento, a Internet também abriu espaço para que conteúdo sem profundidade ou embasamento fosse mais divulgado, o que gera uma necessidade constante de que astrólogos esclareçam conceitos relacionados à sua área.

Influência Digital

            Influência Digital é um termo relativamente recente, que surge em 2015, a partir da tradução do termo em inglês digital influencer (KARHAWI, 2017, p. 53). Para a pesquisadora Issaaf Karhawi, o conceito de influência inclui:

o discurso circulante sustenta que os influenciadores são aqueles que têm algum poder no processo de decisão de compra de um sujeito; poder de colocar discussões em circulação; poder de influenciar em decisões em relação ao estilo de vida, gostos e bens culturais daqueles que estão em sua rede (KARHAWI, 2017, p. 53).

            Issaaf Karhawi atribui à influência, ainda, um caráter inovador e a ideia de ser multiplataforma, o que permite a sobrevivência digital do influenciador ainda que determinada plataforma deixe de existir. Além disso, Issaaf aponta uma relação entre influência digital e a ideia de legitimidade e prestígio. Para ela, ainda, existe um processo de construção e manutenção de reputação, já que um influenciador digital precisa ocupar um espaço de prestígio e distinção (KARHAWI, 2017, p. 59).

            A jornalista e influenciadora Vanessa Musskopf[2] classifica os tipos de influenciadores em celebridades – aqueles com muitos números, milhões de seguidores; os especialistas – reconhecidos como referência em algum tema (onde incluo os influenciadores astrólogos) e os microinfluenciadores – que possuem uma base de seguidores pequena e nichada e que são capazes de interagir com seus seguidores com mais qualidade, gerando mais engajamento.   

            Influenciadores também “criam uma ponte entre um determinado produto e seus consumidores” (KARHAWI, 2017, p. 59) e, acredito, entre determinados assuntos e temas, como é o caso da Astrologia, e o público leigo.

            Apesar de apontarem a dificuldade em definir influência por entenderem que isso é muito mais complexo que apenas números e objetivos, Erik Deckers e Kyle Lacy, afirmam que influência “é uma medida do seu poder online. Com que facilidade você consegue que outra pessoa tome uma ação em seu nome?[3]” (p. 229). Em seu livro Branding Yourself: how to use social media to invent or reinvent yourself, citam uma definição que diz que “influência é a capacidade de causar ações e resultados desejáveis e mensuráveis[4]” (DECKERS; LACY, 2018, p. 230).

            Os autores afirmam que “influência não é apenas uma medida bruta de fama[5]”. Para eles, “sua influência é baseada em sua capacidade de inspirar seus seguidores a agirem – não ninguém e todos no Twitter, apenas seus seguidores[6]”. Entendem, ainda, que “você cria sua própria história pessoal da marca para aumentar sua influência na sua rede[7]”. Para ambos,  “independentemente de você influenciar uma sala em um evento de rede ou receber vários retuítes em uma postagem de blog, a influência que você tem depende de onde você concentra seu conteúdo e cria mudanças[8]” (p. 230).

As entrevistas com astrólogos e seu público

Em 2011, enviei solicitação para aproximadamente 200 astrólogos. Apenas 14 responderam meu questionário. Sobre o público interessado pelo assunto, fiz a solicitação via redes sociais e obtive 23 questionários respondidos. Agora, em 2020, repeti o procedimento, enviando diretamente o questionário dos astrólogos em grupos de Whatsapp e Facebook ou diretamente por e-mail. Obtive 20 respostas. Com relação ao público, fiz a solicitação via redes sociais – post nos stories do Instagram e posts no Twitter e Facebook e obtive 142 questionários respondidos.

            Repeti, em 2020, as perguntas feiras em 2011[9], apenas incluindo novas mídias digitais que, até então, não existiam. São perguntas sobre a utilização das redes sociais pelos astrólogos e a relação do público com a Astrologia, via redes sociais.

            Cabe ressaltar que, além do compartilhamento de conteúdos, as redes sociais passaram a ser um ambiente de Influência Digital para a Astrologia, assim como para outras áreas. Astrólogos passaram a ser vistos como influenciadores digitais e, aqueles que estão presentes nas redes sociais, parecem ter se tornado referências na área. Muitas vezes, inclusive, sem o conhecimento astrológico suficientemente profundo para isso, uma vez que as redes sociais também trouxeram uma espécie de glamourização da Astrologia.

            Assim, apresento, aqui, algumas conclusões a partir da comparação das respostas obtidas. O que mudou ao longo de uma década?

O uso das redes sociais pelos astrólogos

            Em 2011, a maioria dos astrólogos não fazia uso exclusivamente profissional das redes sociais. Em 2020, 55% dos entrevistados afirmou utilizar para o social e o profissional, sendo que 35% deles têm redes sociais diferenciadas para cada um deles.

            Na presente pesquisa, a maior parte dos astrólogos entrevistados afirma utilizar a Internet para produção de conteúdo, inclusão de banners publicitários, divulgação de seus trabalhos, pesquisas e utilização de banco de dados. Informaram, ainda, utilizar para benchmark, promoção da Astrologia e geração de interesse pelo assunto, vendas, postagem de vídeos, atendimentos online e utilização de plataformas para pagamento online por seus trabalhos. Já o público (não astrólogos) respondeu que utiliza a Internet (no caso da Astrologia) especialmente para acompanhar posts sobre o céu do momento, agendar consultas, fazer atendimentos online e cursos em EAD.

            Instagram (90%) foi citada como a principal rede social utilizada pelos entrevistados, seguido do Facebook (80%), Telegram (55%), Site, Twitter e Youtube (45% para os 3), Blog (25%) e Podcast (20%). Em 2011, foram citados Websites, Orkut, Twitter e Facebook. Dentre elas, Facebook e Instagram foram considerados os melhores canais de comunicação em termos de retorno e cobertura de clientes, especialmente por serem canais de fácil divulgação. O Instagram, em especial, pela rapidez do conteúdo e a possibilidade de marketing gratuito e por se adaptar melhor à sua vida. O Whatsapp foi apontado por sua facilidade de comunicação imediata e por ser uma boa ferramenta de indicação “boca a boca”, além da possibilidade das listas de transmissão. YouTube foi citado como um canal de acesso a um público mais amplo e gerador de clientes. Os sites para produção de conteúdo e agendamento de consultas e o LinkedIn, menos citado, para divulgação de eventos. Em 2011, os benefícios das redes mais citadas – Orkut e Facebook – giravam em torno de serem um cartão de visitas e a oportunidade de compartilhar conteúdo, além de serem ferramentas de marketing. Dos entrevistados, 20% fazem uso de E-mail Marketing/Newsletter, distribuídos entre disparos semanais, quinzenais ou mensais.

            Por parte do público não astrólogo, Instagram (91,5%) foi citado como a rede social que melhor comunica a Astrologia, seguido do YouTube (78,9%), Site e blogs (71,1%), Podcasts (60,6%), Facebook (29,6%), Twitter (8,5%), Linkedin (1,4%).

O que mudou na Astrologia com as redes sociais e durante a última década

            Em 2011, a maior parte dos astrólogos entrevistados afirmou que as redes sociais permitiram maior disseminação do conteúdo astrológico e a divulgação de seus próprios trabalhos e que trouxeram a popularização da Astrologia, permitindo ao público interessado estar mais perto dos astrólogos e acompanhar seu conteúdo, através das dicas sobre o céu do dia ou informações mais profundas sobre o tema. Além disso, a possibilidade de apresentar seu trabalho a conhecidos, como amigos e familiares, também foi apontado.

            Agora, em 2020, os entrevistados astrólogos citaram a democratização da informação, a divulgação efetiva e multiplicada, a mudança na forma de exposição dos profissionais, a oferta de conteúdos variados, mais oportunidade de marketing e divulgação, novas formas de se expor conteúdos e se trabalhar com Astrologia, troca de informação, oportunidade de aprender mais, apresentar a Astrologia de forma mais profunda, a conexão mundial com os produtores de conteúdo, a possibilidade de atendimentos e cursos online, entre outros.

            Se em 2011 muitos entrevistados não astrólogos apontavam a possibilidade de acessar informação sobre o conteúdo, interagir com os astrólogos e compreender a aplicação prática da Astrologia em suas vidas cotidianas, em 2020 obtive respostas como a possibilidade de acessar mais conteúdo aprofundado, o acesso rápido e diário e a facilidade de fazer seu próprio mapa online. A facilidade de contato com os astrólogos foi igualmente citada por muitos dos entrevistados como um benefício trazido pelas redes sociais.

            Se por um lado os entrevistados citaram o aprofundamento do tema e conteúdo de mais qualidade, de outro comentaram a respeito da contradição e desencontro de informações e os conteúdos não confiáveis, que também ganharam espaço nas redes. O público passou a conhecer mais sobre o assunto, mas também ficou mais confuso sobre os requisitos necessários para confiar ou não em um profissional que se expõe nas redes sociais. As redes sociais popularizaram a Astrologia, mas também podem tê-la banalizado, especialmente por conta dos conteúdos que incluem memes e brincadeiras, que acabam por reforçar o estereótipo que gera preconceito.

            Em 2011, entrevistados já citavam as experiências compartilhadas como um dado importante, pois cada vez mais as pessoas percebiam uma influência comum do céu em suas vidas. Esses comentários repetem-se em 2020 como um benefício e ao mesmo tempo algo que ajuda a identificar os conteúdos sem profundidade ou consistência.

            O acesso gratuito a conteúdos astrológicos também foi bastante citado pelo público como uma mudança significativa.

Sobre o papel das redes sociais para a Astrologia

            Para os astrólogos, em 2011, os principais papéis das redes sociais para a Astrologia giravam em torno da maior possibilidade de divulgação com clareza e a baixo custo e de forma mais adequada, já que permitiam mostrar ao público que, apesar de toda complexidade do tema, ela pode ser acessível a todos. A proximidade entre astrólogos e deles com seu público também foi citada, bem como o marketing pessoal e divulgação de conteúdo. No geral, os entrevistados não astrólogos concordavam com os profissionais que a divulgação e disseminação da Astrologia eram os principais papéis das redes sociais. O público em geral citou bastante a maior divulgação e a expansão no interesse sobre o estudo da Astrologia. Alguns dos entrevistados da época, então leigos, agora em 2020 responderam à pesquisa no papel de astrólogos profissionais. Em 2011, a interação entre astrólogos e seu público foi citada pelos leigos como um papel importante das redes sociais. A simplicidade com que um tema tão complexo passou a ser compartilhada ajudou a compreender sua profundidade e suas aplicações práticas e isso já era visto como um papel importante tanto por astrólogos como para seu público.

            Agora, em 2020, astrólogos entendem como papéis importantes das redes sociais para a Astrologia a visibilidade e o conhecimento que chega ao público, a possibilidade de maior divulgação e acesso à informação e contatos. A possibilidade de um feedback imediato e divulgação. No caso do público, foram citados a oferta de informação de qualidade e de forma mais acessível, a oferta de cursos e trabalhos acadêmicos, mais acesso à bibliografia e pesquisas, aproximação entre profissionais e clientes, networking, conhecimento à disposição.

 Benefícios e problemas das redes sociais

            Os astrólogos apontam como maiores benefícios da Internet e das redes sociais a rapidez, inspirações constantes, mais referências, divulgação de seu conteúdo e trabalho, mais troca de conhecimento, a possibilidade de trazer uma visão mais correta da Astrologia, captação de clientes e alunos, aproximação entre profissionais e seu público, ampliação do saber e acessibilidade de informação, tornando a Astrologia menos hermética.

            Por outro lado, citam como problemas a falta de qualidade de conteúdo em algumas páginas sobre o assunto, os plágios, muito comuns na área, a promoção dos “pseudoastrólogos” e “falsos profetas”, o que também foi citado pelo público leigo. A simplificação de conceitos e a visão superficial, as fake news e banalização pela falta de profundidade também aparecem como prejuízos trazidos pela internet para a Astrologia. Assim, ao mesmo tempo as redes sociais parecem melhorar a imagem e ao mesmo tempo reforçar os estereótipos e preconceitos com relação ao tema.

            Os astrólogos entrevistados citam os memes, piadas e conteúdos fúteis presentes nas redes sociais sobre o tema como um problema que reforça o preconceito e o estereótipo na Astrologia e que geram uma banalização de um saber tão complexo.

            O público leigo cita bastante o fato do acesso ao conteúdo mais rico e profundo que os horóscopos, que ainda existem em sua forma tradicional em jornais, revistas e televisão. Pedem ainda mais produção de conteúdos profundos, especialmente vídeos e podcasts. A humanização dos profissionais, curiosamente tão citada em 2011, se repete como um benefício em 2020. Por muito tempo, os astrólogos eram vistos como gurus e pessoas com dons especiais e a compreensão da Astrologia como área do saber que exige estudo e prática, bem como essa maior proximidade com o profissional através das redes, fez como que o público leigo notasse que são seres humanos, pessoas comuns, como qualquer outro profissional.

            A questão da não regulamentação da profissão aparece nos questionários de profissionais e leigos, já que para quem não conhece o assunto, fica difícil saber sobre a seriedade do profissional e seu conteúdo presente nas redes sociais.

Astrologia e Influência Digital

            Por parte dos astrólogos, parece que o uso de redes sociais desde o início até tempos atuais vai na linha da vontade de compartilhar conteúdo e divulgar a própria Astrologia como uma área do conhecimento, mas também como ferramenta de marketing, captação de clientes e alunos e venda de serviços e produtos, físicos ou digitais.

            Do ponto de vista do público leigo, não apenas o conteúdo presente nas redes sociais, como também a presença do próprio profissional é muito importante. A relação direta entre profissionais e seu público, que se estreitou ao longo da última década, permite que sua audiência observe seu conteúdo, credibilidade e consistência. Essa maior proximidade do profissional com seu público, o contato direto, a possibilidade de tirar dúvidas e enviar seus feedbacks e a interação é considerada muito importante.

            O público leigo aponta como uma busca ou expectativa encontrar sinceridade, conteúdo profundo e também conselhos e respostas para suas próprias vidas.

            Os posts dos astrólogos tornaram-se norte para os interessados pelo assunto e a Astrologia nas redes sociais é citada como algo decisivo na vida das pessoas. Após a realização da pesquisa em si, em julho de 2020, fiz perguntas nos stories do meu Instagram e aproximadamente 60% dos que responderam disseram tomar decisões importantes baseadas na Astrologia que está presente nas redes sociais. As respostas também foram na linha de que os astrólogos das redes sociais são fontes de inspiração e considerados influenciadores digitais pela grande maioria.

            Os entrevistados não astrólogos citam a expectativa por seriedade, clareza, idoneidade, profissionalismo, originalidade, confiabilidade, didática, interação com o público, transparência e compromisso por parte dos profissionais. A necessidade de responsabilidade, empatia, aprofundamento, constância e credibilidade são muito citadas. E isso tudo, quando encontrado, trazendo o profissional como alguém a ser seguido, inclusive em termos de referência para suas vidas pessoais.

            É importante citar que, para todos os astrólogos entrevistados em 2020, a mídia convencional não divulga ou comunica a Astrologia de forma adequada. Ao contrário, 75% deles entende que a Internet divulga a Astrologia de forma melhor e mais abrangente, número significativamente maior do que na pesquisa de 2011.

            Se em 2011 as redes sociais já haviam criado uma nova forma de se fazer horóscopo e falar sobre Astrologia, em 2020 isso já se instalou e, apesar do baixo número de astrólogos que respondeu à minha pesquisa, muitos estão presentes nas redes sociais. Diariamente, a quantidade de posts sobre Astrologia é cada vez maior. Muitos canais, podcasts e páginas surgem a todo instante.

            Apesar de muitas páginas e canais sobre Astrologia não pertencerem a astrólogos, o que infelizmente contribui para a generalização, o estereótipo e o preconceito, muitos profissionais sérios e comprometidos com a profissão ganham cada vez mais espaço para publicarem seus conteúdos e interagirem com seu público, divulgando a Astrologia e também seus trabalhos.

            Um influenciador astrólogo poderia ser classificado como um influenciador especialista, por ser alguém que domina determinada área do conhecimento, um determinado assunto, podendo, em alguns casos, ser também microinfluenciador, uma vez que passa a ser referência também para outros temas sobre os quais possam falar.

            Para a jornalista e influenciadora Vanessa Musskopf[10], os influenciadores especialistas são aqueles “reconhecidos como referências em algum tema”. Segundo ela, ainda, “é um influenciador que estuda o seu tema e tem embasamento sobre o que fala. Por isso, suas postagens têm grande credibilidade e relevância”.

            De acordo com a jornalista espanhola Marta Peirano, no início, “ a maior parte dos influenciadores eram especialistas de algum tema específico”, havendo, com o tempo, “uma declaração de independência e singularidade dos nativos digitais” (PEIRANO, 2019, p. 189).

            Muitos serviços e produtos online e cursos em EAD são disponibilizados constantemente e a atuação como influenciadores passa a ser cada vez mais frequente entre os astrólogos que, inclusive, vinculam seus nomes e conteúdos a marcas, que, por sua vez, se aproveitam da popularidade da Astrologia para venderem seus produtos. Além disso, algumas marcas ligadas a produtos diversos têm buscado astrólogos influenciadores para relacionarem suas marcas e produtos.

            O termo formadores de opinião também aparece relacionado ao conceito de influência e “faz parte dos principais paradigmas dos efeitos da comunicação nos públicos” e, citando outras pesquisas, aponta a tendência à maior influência vinda de grupos como amigos e família e ressaltando a importância do formador de opinião no processo de comunicação mais coletiva. ((KARHAWI, 2017, p. 52).

            Fala-se muito, ainda, sobre relevância. Para Vanessa Musskopf[11], inclusive, “influência é relevância”. E é por isso que nem sempre números são decisivos neste processo. Para ela, “influenciadores que geram interações com o público são mais influentes do que aquelas com maior número de curtidas”.

            No caso da Astrologia, a relevância vem pelo próprio tema em si, para o público que deseja consumir este conteúdo. A informação astrológica presente nas redes sociais é intermediada pelo profissional astrólogo, que traduz o conteúdo astrológico mais complexo em algo acessível ao público leigo. Além disso, a comunidade que se cria tende a ser um nicho, ou seja, composta de pessoas interessadas pelo tema. Erick Deckers e Kyle Lacy também apontam a importância do networking para um influenciador. (p. 15) Para eles, “seu networking é seu castelo[12]” (p 41). Eles ressaltam, ainda, a importância de falar diretamente para a audiência que você deseja alcançar[13] (DECKERS e LACY, 2018, p. 23).   

No caso da Astrologia, o público interessado no tema que é tão complexo e que ganha mais consistência e possibilidade de aplicação prática ao ser traduzido pelo astrólogo, não só mais apenas em uma consulta pessoal, mas como em posts astrológicos presentes nas diversas mídias digitais.

            Durante sua aula, ministrada na disciplina Como nascem os influenciadores e como utilizá-los, Vanessa Musskopf[14] sugere que “além de seu assunto principal” o influenciador “mostre a sua vida pessoal” e “posicione-se”.

            No caso da Astrologia, o próprio fato da presença da figura do profissional parece fazer mesmo diferença, já que como aparece de forma recorrente nas respostas dos questionários feitos tanto em 2011 como em 2020, demonstram que o astrólogo não é um guru, o que parece fazer com que o entendimento sobre o que é de fato Astrologia seja mais possível.

            Assim, mais do que ter criado uma nova forma de se falar sobre Astrologia e produzir horóscopo, que passa a ser transformado em uma espécie de boletim do céu em tempo real, as redes sociais de fato trouxeram essa maior proximidade do público geral com o assunto, o que de início criou uma nova relação das pessoas com essa área do saber, mas que, com o tempo, também tornou muitos dos profissionais espécie de ídolos, referências ou influenciadores em sua vida. Profissionais que até alguns anos atrás eram vistos como gurus passam a ser vistos como “gente como a gente” que, inclusive, consome e escolhe marcas que passam a vender em seus posts e canais. A maior intimidade com os astrólogos faz com que parte do público queira uma proximidade e identificação maior com eles e, por isso, acabam seguindo suas dicas não apenas astrológicas.

            É comum ouvir relatos de influenciadores digitais de sucesso que começaram sua carreira contando histórias e compartilhando conteúdos por gostarem de compartilhar suas experiências, temas de interesse e descobertas com outras pessoas. É o caso de Vanessa Musskopf, que compartilhou em aula sua própria trajetória, contando que passou a compartilhar conteúdos que gostava. Erik Deckers e Kyle Lacy trazem algo semelhante em seu livro, deixando claro que “paixão é fundamental para atingir seus objetivos[15]” (p.11). Se você ama o que você faz, é muito mais provável que conseguirá compartilhar seu conteúdo de forma consistente, relevante e com credibilidade. Mas também é importante criar uma forma de fazer isso e contar a sua história. Sua própria relação com o tema que está sendo compartilhado é fundamental. É “sua história que torna você especial[16]” (DECKERS; LACY, 2018, p.14).

            Existe, inclusive, uma espécie de glamourização da Astrologia e dos astrólogos a partir de toda essa popularização, o que também tem levado cada vez mais gente aos cursos de formação em Astrologia que, também, são cada vez mais disponibilizados nos formatos online.

Considerações finais

            Se em 2011, ao pesquisar sobre o tema, encontrei muito mais do que buscava e isso me levou a seguir pesquisando o tema ao longo de toda essa década, agora em 2020 tenho observado movimentos importantes que, talvez, gerem outras pesquisas e estudos acadêmicos. Durante a pandemia do novo coronavírus, outras questões vieram à tona. Muitos astrólogos previram o ano tenso que estamos vivendo, enquanto outros haviam previsto um ano mais leve e harmonioso. Isso despertou interesse no público em conhecer mais a fundo as técnicas de previsões astrológicas e a necessidade de identificar quem são os astrólogos de fato pesquisadores e profissionais da área. Muitas matérias sobre isso foram feitas nas mídias mais tradicionais e algumas páginas de Astrologia acabaram mudando seu foco. Os cursos em EAD também aumentaram significativamente ao longo de 2020, pela impossibilidade de realização presencial. Além disso, os momentos de crise, historicamente, geram maior curiosidade sobre o futuro e a maior busca por áreas que possam ajudar na melhor compreensão da vida humana, o que é o caso da Astrologia. Enquanto muitos profissionais têm reclamado pela falta de trabalho, astrólogos têm trabalhado bastante durante a pandemia.

            Astrólogos tornaram-se, ainda, uma referência maior neste período tão desafiador para todos. Uma espécie de ponto de luz, para alguns entrevistados, que passaram a se orientar ainda mais pela Astrologia.

            No entanto, parece que os astrólogos nem sempre têm consciência da força que as redes sociais têm, cada vez mais, para se comunicarem e divulgarem com ainda mais profundidade seus conteúdos. Analisando as respostas dos profissionais e do público leigo, parece que a audiência reconhece melhor os benefícios das redes sociais para a Astrologia.

            Mesmo após tantos anos, parece ainda haver alguma resistência por parte dos astrólogos que responderam à pesquisa. Apesar disso, muitos astrólogos, inclusive alguns com pouca experiência profissional, firmam-se como influenciadores, com uma quantidade alta de seguidores em suas redes sociais, incluindo posts sobre Astrologia e outras áreas com as quais relacionam seu trabalho, incluindo a presença de marcas e patrocinadores.

            Da minha experiência pessoal, noto que as mídias digitais trazem uma série de problemas, como o espaço para conteúdo não profissional e muitas vezes equivocado, o excesso de intimidade que se cria entre profissionais e seu público, entre outros problemas. Mas, vejo uma série de benefícios cada vez maiores, como a possibilidade de informar a respeito do que é Astrologia e compartilhar conteúdo de forma multimídia. Percebo a importância de conhecer cada uma das mídias para que o conteúdo seja ajustado e adaptado ao seu público e ao que se espera em cada uma delas. O retorno em termos de clientes e alunos que chegam por intermédio das redes sociais é cada vez maior, assim como a possibilidade de influência digital.

            Por ter também um e-commerce no qual vendo serviços e produtos digitais ligados à Astrologia, percebo o aumento cada vez maior das vendas. Em 2020, também criei lojas parceiras de outros produtos – Magazine Luiza, Amazon e uma loja virtual de vinhos – e, ao associar Astrologia a determinados produtos, ou indicar livros, por exemplo, as vendas são concretizadas. Acompanho esse movimento por parte de outros astrólogos.

            As mídias digitais, que já mostraram que vieram para ficar, são uma vitrine do trabalho do astrólogo. É comum ouvir de clientes que apenas agendam suas consultas, ainda que o profissional tenha sido bem recomendado por pessoas de sua confiança, após acompanhar o trabalho do astrólogo via redes sociais por algum tempo. O número de acesso aos sites e blogs também vem significativamente via redes sociais, apesar dos sites de busca exercerem um papel muito importante neste sentido.

            Vejo como uma grande possibilidade o papel do astrólogo como um influenciador digital, não só no sentido mais comumente associado de patrocínio e associação a marcas e outros produtos e serviços, mas pela própria influência ao se posicionar e compartilhar a Astrologia que, aos poucos, passa a ser levada mais a sério e reconhecida como uma área do conhecimento.

            Se um influenciador também é um especialista em algum tema específico (PEIRANO, 2019, p. 189) e alguém capaz de fazer uma ponte entre determinado conteúdo e seu público, acredito que alguns astrólogos desempenham este papel tendo a Astrologia como seu “produto” ou conteúdo em si.

            Mas é importante destacar que, apesar do termo influenciador digital ter passado a ser utilizado no Brasil em 2015, o conceito já aparecia antes com outros nomes. Por exemplo, como formadores de opinião online (KARHAWI, 2017, p.54) e, de certa forma, identifiquei esse papel entre os astrólogos quando realizei minha primeira pesquisa, em 2011. Há, ainda, a enfatização de que ser influenciador requer produção de conteúdo (KARHAWI, 2017, p.54) que, no caso dos astrólogos, inclui a própria Astrologia.

            E se o influenciador é de fato “uma ponte entre um produto e seus consumidores” (KARHAWI, 2017, p.59), é também uma ponte entre um tema no qual seja especializado e seu público.

            Importante destacar, ainda, que reputação e credibilidade são componentes importantes de um influenciador, sendo considerado um “elemento essencial na construção de imagem, identidade e posicionamento de marca” (KARHAWI, 2017, p.60). Penso que no caso da Astrologia, isso inclui o conhecimento profundo do tema e experiência profissional do astrólogo que consegue transmitir isso para seu público.

            Sempre gosto de pensar que as mídias digitais permitem nossa interação e as reflexões sobre as relações existentes entre os ciclos celestes e os acontecimentos terrestres. Tal qual nossos antepassados se reuniam em volta da fogueira para conversar sobre o céu, hoje em dia fazemos isso via redes sociais. O interesse pelo céu que sempre esteve presente nas diversas culturas segue até hoje, em uma conexão entre homem e céu que nunca deixou de existir. Além disso, “a rapidez que as coisas mudam implanta em cada um de nós uma incerteza constante” (LONGO, 2004, p. 155) e a Astrologia, com sua complexidade diante de um céu que muda o tempo todo pode nos trazer informação sobre as mudanças de uma época e, inclusive, antecipá-las.

            Para Edgar Morin, “somos totalmente filhos do cosmo e o carregamos dentro do nosso ser sob a forma de microcosmo” (2008, p. 14) e, assim, a “Terra e o Céu compartilham a mesma identidade física” (2008, p. 14). Mais do que isso, “ao se reconhecerem como filhos do Céu, os chineses admitiram seu parentesco cósmico” (MORIN, 2008, p. 11), o qual, segundo o autor, temos o direito de reivindicar.

            Justamente por conta dessa conexão entre homem e cosmos que, no fundo, nunca deixou de existir, a Astrologia esteja tão presente na mídia e, por sua forma cíclica que nos conta diariamente uma narrativa, seja tão compatível especialmente com as redes sociais. É provável que seja esta a razão da Astrologia atrair cada vez mais pessoas interessadas em saber mais sobre o tema. Afinal, “somos filhos do céu” (MORIN, 2008).

Referências

BERGER, Jonah. O poder da influencia. As forças invisíveis que moldam nosso comportamento.Editora Altas Books. São Paulo, 2017.

BOBRICK, Benson. Escrito em el cielo: uma historia de la astrologia. Editorial El Ateneo. Buenos Aires, 2007.

CASTRO, Ana Cristina Vidal de. Astrologia nas redes sociais: uma nova forma de compartilhar o céu. Monografia realizada como trabalho de conclusão de curso da Pós Graduação Lato Sensu em Jornalismo. Faculdade Cásper Líbero. São Paulo: 2011.

CASTRO, Ana Cristina Vidal de. Astrologia nas redes sociais: uma nova forma de compartilhar o céu. In GOTTLIEB, Liana (org). Coleção Comunicação em Cena, volume 2. Editora Scortecci. São Paulo, 2013.

CASTRO, Maria Eugênia de. Astrologia: uma novidade de 6000. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro: 2007.

CONNOR, James A. A bruxa de Kepler. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 2005.

DECKERS, Erik. LACY, Kyle. Branding Yourself: how to use Social Media to invent or reinvent yourself. Editora Que. Estados Unidos, 2018.

KARHAWI, Issaf. Influenciadores digitais: conceitos e práticas em discussão. Communicare, edição especial de 70 anos da Faculdade Cásper Líbero. V. 17. São Paulo, 2017.

LONGO, Walter. Marketing e Comunicação na Era Pós-Digital: as regras mudaram. Editora HSM. São Paulo, 2014.

MARSHALL, Peter. A Astrologia no mundo: uma visão histórica para entender melhor a personalidade humana. Editora Nova Era. Rio de Janeiro, 2004.

MORIN, Edgar. CASSÉ, Michel. Filhos do céu: entre vazio, luz e matéria. Editora Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2008.

MORIN, Edgar; et alli. O retorno dos astrólogos. Editora Moraes. Lisboa, 1972.

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Kepler: a descoberta das Leis do Momento Planetário. Editora Odysseus. São Paulo: 2003

MUSSKOPT, Vanssa; PALUDO, Ticiano. Como nascem os influenciadores e como utilizá-los. Livro da Disciplina realizada na Pós Graduação em Influência Digital: Conteúdo e Estratégia. Porto Alegre, 2020.

ORTIZ, Ana Cristina Vidal de Castro. Narrativas do Céu: a presença da Astrologia nos meios de comunicação. Dissertação de Mestrado em Comunicação. Faculdade Cásper Líbero. São Paulo: 2015.

ORTIZ, Ana Cristina Vidal de Castro. Compreensão da Astrologia: diálogos homem-cosmos intermediados pela mídia. In KUNSCH, Dimas. AZEVEDO, Guilherme. BRITO, Pedro Debs. Mansi, Viviane Regina. (organizadores). Editora Plêiade.  São Paulo, 2014.

PEIRANO, Marta. El enemigo conoce el sistema: manipulacíon de ideas, personas e influencias después de la economia de la atención.  Editora Debate. Barcelona, 2019.

RAMOS, Daniela Osvald. Astrologia on-line: um estudo da mediação tecnológica. Dissertação de mestrado em Comunicação e Cultura. ECA/USP. São Paulo, 2002.

STUCKRAD, Kocku. Hostória da Astrologia: da antiguidade aos nossos dias. Editora Globo. São Paulo: 2007.

Pesquisa 2020, público não – astrólogos: https://forms.gle/sz7vniCua8gmqxC47

Pesquisa 2020, astrólogos: https://forms.gle/PRBZ5jHz5qg5umtM6


[1] Plataforma de Streaming.

[2] Definições apresentadas pela professora Vanessa Musskopf durante sua aula na disciplina Como nascem os influenciadores e como utilizá-los, PUC/RS/EAD, 2020. Essas definições também aparecem no Livro da Disciplina.

[3] “Influence is a measure of your online power. How easily can you get someone else to take na action on your behalf? (tradução nossa)

[4] “Influence is the ability to cause desirable and measurable actions and outcomes” (tradução nossa)

[5] “Influence is not just a raw messure off fame” (tradução nossa)

[6] “Your influence is based on your ability to inspire your followers to take action – not anyone and everyone on Twitter, just your followers” (tradução nossa)

[7] “You create your personal brand story to increase your influence within your network” (tradução nossa)

[8] “Whether you influence a room at a networkink evento r get multiple retweets from a blog post, the influence you have depends on where you focus your content and create change” (tradução nossa)

[9] Tabela contendo as perguntas em anexo.

[10] Definições apresentadas na aula ministrada dentro da Disciplina Como nascem os influenciadores e como utilizá-los e também no Livro da Disciplina.

[11] Definições apresentadas na aula ministrada dentro da Disciplina Como nascem os influenciadores e como utilizá-los e também no Livro da Disciplina.

[12] “Your Network is you castle” (tradução nossa)

[13] “Write for the audience you want to reach” (tradução nossa)

[14] Fala da professora Vanessa Musskopf em aula da disciplina Como nascem os influenciadores e como utilizá-los, PUC/RS, 2020. Conteúdo também presente no Livro da Disciplina.

[15] “Passion is fundamental to achieving your goals” (tradução nossa)

[16] “Your story is what makes you special” (tradução nossa)

Clique abaixo para acessar os anexos (tabulação da pesquisa):

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