Ícone do site Titi Vidal

A primeira perda

Desde tempos muito antigos parece haver uma certa dificuldade em lidar com a morte. Tanto é que no taro, o arcano 13, carta da Morte, não tem esse nome em vários baralhos. Ou tem em algum cantinho, assim meio jogado, como se quem fez as cartas tivesse sido obrigado de última hora a colocar.
Aquela cujo nome não pode ser dito por muita gente em muitos tempos, mas que chega para todos, parece ser muito raramente bem vinda.
Seja como for, a morte é a única certeza da vida. E, pode-se pensar, a maior responsável por dar sentido à vida.
Existem linhas espirituais que consideram um dos principais objetivos da vida a boa preparação para a morte. E não raro deparamos com pessoas que se perguntam o que deixarão após sua morte. Você sabe qual será seu legado?
A carta da morte, no taro, é uma carta de mudanças. Anuncia o fim de alguma coisa e o começo de outra. Ela encerra, transforma. Fala de fins e começos e pode anunciar uma morte de alguma natureza.
É tão temida, mas assim como Plutão, na astrologia, raramente leva alguma coisa sem trazer outra em seu lugar.
Plutão, por onde passa, encerra ciclos para iniciar outros, reciclando e transformando tudo.
Mas antes de Plutão, já havia Saturno. Senhor do tempo e também da morte. Assim como as Moiras ensinam, findo seu tempo, corta-se o fio da vida. E não há Zeus que possa impedir.
Na astrologia, além de Saturno e Plutão , há uma casa astrológica que dentre diversos assuntos dedica-se a falar sobre a morte.
A casa 8, que fala de transformações profundas, de sexo, dinheiro e tantos outros assuntos íntimos ou tabus, também fala sobre a morte – a nossa própria e a das pessoas e situações que perdemos ao longo da vida. É uma casa capaz de mudar o nível de profundidade e acessar boa parte do nosso inconsciente.
Quando vivemos um trânsito astrológico nessa casa, somos obrigados a entrar em contato com aspectos profundos de nós mesmos e transformar alguma coisa em nossa vida. Muitas vezes lidamos com situações extremas e profundas e somos obrigados a crescer, a mudar, a fechar e abrir ciclos, a repensar a vida.
E nem precisa ser um trânsito ou aspecto muito complicado ou de longa duração. Muitas vezes uma simples lunação (lua Nova) e/ou eclipse já cumpre esse papel.
Foi assim dia desses com minha filha, Luiza, de 3 anos, que após um eclipse solar em sua casa 8 teve que vivenciar sua primeira perda significativa, a de uma de nossas gatinhas.
A gata Pangue já vinha numa fase difícil, em tratamento de saúde, mas convivia muito com a gente e elas eram super apegadas.
E foi numa segunda de carnaval que a Pangue decidiu partir. Depois de um dia feliz na companhia da minha filha, passou mal e dessa vez não teve jeito. O coração dela já tinha parado algumas vezes nos dias anteriores, mas “voltou” várias vezes antes de decidir partir pra valer. A gata virou até caso de estudo entre os veterinários…
Dia seguinte da morte da gata, fizemos o enterro só na presença dos adultos da casa, mas não tinha como esconder esse acontecimento triste da Luiza, que queria o tempo todo ir visitar a gata na clínica. Ainda que conseguirmos “enrolar” por uns dois dias, até que a gente conseguisse contar de forma mais tranquila pra ela.
Além das crianças serem muito mais espertas hoje em dia, as constelações familiares mostram cada vez mais pra mim o quanto não devemos esconder nada. Porque podemos não saber racionalmente das coisas. Mas a alma sempre sabe.
Então, dois dias após a morte da gatinha, na véspera do eclipse, sentamos com ela e contamos da forma mais amorosa possível que a gatinha foi morar no céu, que virou uma estrelinha.
Foi um choro doído e longo o que se seguiu. Uma criança inconformada, achando que os pais estavam mentindo porque a Pangue só podia estar no veterinário e que “ela não podia virar uma estrelinha porque a a gente ama muito ela”. De partir o coração.
Aos poucos e com muito carinho e conversa o choro foi se acalmando, com abraços e carinhos, e a minha ideia foi imprimir algumas fotos, fazer um livrinho da Pangue. A Luiza desenhou na capa e guardou na gaveta. Disse que vai ver o livro todos os dias e guardar com ela até o dia que ela também fique bem velhinha e vire uma estrelinha também. Ter as fotos e as lembranças, acalmou seu coração.
Sabemos que as perdas são difíceis, doloridas, mas infelizmente fazem parte e temos que saber lidar. No caso das crianças, com amor, cuidado e paciência. As perdas também acabam por nos transformar e fazem crescer, mais fortes.
Todos os dias, quando a Luiza está com saudades da Pangue, vai lá ver e fazer carinho na amiga e irmã gata que estará sempre no seu coração, e em alguma estrela do céu, sempre olhando por nós. E é por isso que agora todas as noites além de sair pra ver a Lua e as outras estrelas no céu, estamos sempre procurando A estrela Pangue, pra dizer que vamos amá-la e lembrar dela pra sempre.
* Ah, o eclipse caiu na minha casa 6, a dos bichinhos de estimação… (dá pra não “acreditar” que a Astrologia funciona?)
Sair da versão mobile