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A música e sua importância na vida psíquica

     “A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” Shoppenhauer

                       Você já sentiu arrepio ao ouvir uma música? Já sentiu seus olhos transbordarem em lágrimas ou já pulou de alegria diante de uma canção? A música, para muito além da racionalidade, é capaz de nos tocar em algumas instâncias sutis, mais próximas das emoções. Mas como isto acontece?

                        Trata-se de um tema complexo, mas esboçamos aqui algumas ideias básicas para ajudar nossa reflexão.

                        Vale lembrar que o aparelho auditivo é um dos primeiros órgãos a se desenvolver e é fácil observar a sensibilidade dos bebês diante dos sons. Mesmo sem falar, é possível também observa-los a acompanhar ritmos com  movimentos corporais antes do primeiro ano de vida.

                         Na história da humanidade, a música e a dança estiveram sempre presentes e muitas culturas as associaram ao sagrado, como uma forma de invocar os deuses ou as boas energias. Por evocar estímulos também no  sensorial, trata-se, portanto, de uma linguagem que nos toca em níveis pré-cognitivos. Melodia, ritmo e poesia constroem, em nossa subjetividade, uma comunicação direta onde afetos, linguagem  e memória se entrelaçam.

                         Como está ligada também às relações, desde as canções de ninar, embaladas pela voz de quem amamos até construções melódicas com harmonias e arranjos tecnicamente construídos, permite vivermos através delas o que, muitas vezes, não sabemos traduzir. Assim como outros canais de expressão artística, também a música sintetiza, como diz Shopenhauer, “representações produzidas por forças mais primitivas, talvez próximas do irracional”. Faz parte da condição humana desde seus primórdios e tem dimensão universal.

                        Por ser uma forma tão particular e direta de comunicação, contribui no desenvolvimento infantil, pois, promove desenvolvimento motor, cognitivo e sensorial, como também  proporciona uma articulação entre as experiências e seus significantes. O processo de musicalização apoia-se na experiência e no sentimento anteriores à prática, para que a criança entre em contato direto com o estímulo, antes de aprender a técnica. Se vier associada a um trabalho de expressão corporal, mais integrada será esta assimilação.  Embora sua estrutura seja matemática e lógica, seu caminho psíquico e cerebral atravessa diversas instâncias. Pacientes idosos com dificuldades cognitivas, muitas vezes, recuperam memórias carregadas das vivências emocionais associadas às canções de sua vida.

        A Neurociência hoje é capaz de provar a importância da música como estímulo integrador para  diferentes áreas do cérebro. É um convite para a criatividade e sensibilidade diante das percepções singulares.   Embora não exista um “núcleo musical” no cérebro, a música incita os afetos e memórias que também despertam sensações corporais. Sem contar sua capacidade para ativar endorfinas que trazem bem estar. Além de ter ação pedagógica e terapêutica, a música alimenta a alma e faz bem à saúde!!

        Ou como diria Rubem Alves:

Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

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