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A jornada astrológica (o mito da jornada do herói e os ciclos astrológicos)

A jornada astrológica: a narrativa do Sol pelo Zodíaco

 

A jornada do herói pode ser comparada aos diversos ciclos astrológicos existentes e suas narrativas. De acordo com Malena Contrera, a jornada do herói “em tudo é análoga ao Ciclo da Semente do Zodíaco (e ao mostrador das Casas Astrológicas)…em um percurso que se constrói a partir da relação homem/céu” (2000:34).

A principal jornada astrológica acontece a partir da narrativa do Sol e demais astros pelo zodíaco, uma faixa aparente que circunda a Terra, por onde temos a impressão de assistir o movimento do Sol, da Lua e de todos os planetas. Essa faixa é dividida em doze partes iguais, conhecidas como os doze signos.

Os doze signos estão intimamente ligados às quatro estações do ano, cada uma delas sub-dividida em três partes iguais, o início, o auge da estação, e a transição para a próxima. Astrologicamente, cada estação do ano tem início com um signo cardinal, tem seu ápice em um signo fixo e sua transição para a próxima em um signo mutável. Este ciclo também te relação com a agricultura e os ciclos de plantio. De acordo com Malena Contrera, esse percurso do Sol pelo zodíaco “tem suas origens em narrativas míticas de sociedades arcaicas predominantemente agrícolas, que relacionam o percurso do Sol pelo fundo projetivo do céu ao ciclo da plantação, seus mitos e ritos” (2000:34).

Assim, “o ano novo mítico astrológico” (CONTRERA, 2000:34) inicia com o ingresso do Sol no signo de Áries. É o equinócio de primavera no hemisfério norte. Áries é signo de fogo cardinal, a chama que se acende e coloca a vida em movimento. É o próprio chamado à aventura, o começo e o eterno recomeço, o nascimento, o início, a plantação das sementes e a vida que quer acontecer. A primavera se consolida com o ingresso do Sol nem Touro, signo de terra, fixo. É o período de mais fertilidade, quando as sementes são fixadas na terra fértil. É o momento de máxima beleza na natureza, com as flores e seus coloridos. Quando o Sol ingressa em Gêmeos, signo de ar, mutável, o clima começa a esquentar no hemisfério norte, as pessoas ficam mais alegres e querem estar juntas umas com as outras. Nesse momento, as sementes se expandem e espalham. Esta é a “primeira tríade de ritmos” (CONTRERA, 2000:34).

O verão começa com o solstício – momento em que aparentemente o Sol cruza a linha do horizonte e passa para o hemisfério norte – que acontece com o ingresso desse Sol no signo de Câncer, água cardinal, a emoção em ação. É o mês de férias, em que a família pode se reunir. É também o momento da “concentração das energias da semente para produzir o fruto” e o signo de câncer “é o representante desse outro momento de gestação” (CONTRERA, 2000:34). O ápice do verão acontece com o Sol em Leão, signo de fogo, fixo. É o momento mais quente do ano, que tem a energia pulsando, querendo viver. Neste momento o Sol está a pino e “simboliza o amadurecimento e a integridade do grão, que será colhido e discriminado pelo signo de Virgem” (CONTRERA, 2000:35). Virgem é signo de terra, mutável.

O outono começa com o ingresso do Sol em Libra, signo de ar, cardinal, que está ligado aos relacionamentos. Esse signo “representa a pesagem e distribuição dos grãos já prontos” (CONTRERA, 2000:35). Então as folhas começam a cair e temos a representação da morte simbólica com o trânsito do Sol em Escorpião, signo de água, fixo. Durante este período aprendemos a lidar com a perda, a valorizar o que já foi colhido e poupar energia. Na jornada do herói, este também pode ser considerado o momento de apoteose ou situação-limite, quando precisamos morrer para renascer. Ou, como apresenta Malena Contrera, este momento é uma “clara analogia com o momento em que o Herói Mítico, em sua saga, desce ao interior da Terra, ou é engolido por um grande peixe, ou ficas preso numa caverna, etc” (2000:35). Chega então o momento de estabelecer planos para o futuro, quando o Sol ingressa em Sagitário, signo de fogo, mutável, e começamos a nos preparar para a próxima estação.

Então o inverno começa com o ingresso do Sol em Capricórnio, signo de terra cardinal. Neste momento, temos a impressão de que o Sol está cruzando a linha do equador rumo ao hemisfério sul. As pessoas se recolhem e é preciso trabalhar para estocar alimento e o que mais for preciso para sobreviver ao frio. O auge do inverno acontece com o Sol atravessando o signo de Aquário, ar fixo, signo considerado o exílio do Sol. É o mês mais frio do ano, quando a água está congelada e o clima é mais impessoal, já que está muito frio e é preciso poupar energia. Então as águas começam a descongelar e o clima começa a esquentar. “É a época das enchentes, do caos e da dissolução fecunda que o signo de Peixes simboliza” (CONTRERA, 2000:37).

 

A jornada do herói astrológico – as casas astrológicas

 

Outra jornada astrológica importante é a das doze casas astrológicas que, em um mapa astral, representam áreas e assuntos, mas também falam da nossa própria jornada e experiência de vida. Por exemplo, a primeira casa, que inicia com o chamado Ascendente, fala do nascimento do dono do mapa, inclusive apresentando as condições do parto. Narrando a vida de alguém a partir das casas astrológicas, podemos imaginar a jornada de toda uma vida, incluindo todas as fases e desafios.

Se a narrativa do Sol pelo zodíaco tem a ver com o movimento da Terra em torno do Sol, responsável pelas estações do ano, a narrativa através das casas astrológicas tem a ver com o movimento da Terra em torno de si mesma, responsável pelo dia e pela noite. Astrologicamente, ambos os sistemas são utilizados concomitantemente, sendo que ambos, aparentemente, são movimentos opostos, já que o trânsito do Sol, da Lua e dos planetas pelo zodíaco acontece no sentido anti-horário, enquanto que o movimento do Sol, da Lua e dos planetas pelas casas acontece no sentido horário.

Assim, o chamado Ascendente, que é o início da primeira casa e representa o nascimento, a própria pessoa, incluindo seu corpo físico, seu comportamento e atitudes perante a vida, é o signo que está ascendendo no horizonte naquele momento. Portanto, os planetas próximos ao Ascendente estão para nascer, ou acabaram de nascer. Assim, quem nasce junto com o Sol terá este conjunto ao seu Ascendente. Por volta do meio dia, o Sol, que está à pino no céu, está no chamado Meio do Céu, início da décima casa astrológica, que representa o pai, a carreira, o destino, a vida pública e imagem social. Quando o Sol está se ponto, está no chamado descendente, que abre a sétima casa, considerada a área dos relacionamentos e dos contratos. Por volta de meia noite, quando o Sol está do outro lado, à pino no hemisfério oposto, ele está na chamada quarta casa, considerada a casa da família, entre outros assuntos, o momento mais noturno do mapa, quando, em geral, estamos dormindo.

Um aspecto levantado por Malena Contrera em seu livro é a relação entre a Saga do Herói Astrológico, abordando as casas astrológicas. Segundo Contrera,

as casas astrológicas se propõem a representar um percurso típico do desenvolvimento do ego (herói), estabelecendo fronteiras para definição de uma identidade, num percurso que conta uma história bastante arquetípica, presente sobretudo em sua própria estrutura narrativa (CONTRERA, 2000:87).

           Ao falar das doze casas, Malena Contreta compara sua estrutura narrativa aos conceitos de monomito, apresentado por Joseph Campbell, às estruturas apresentadas por V. Propp sobre os contos maravilhosos (2000:87). Cada uma das doze casas está associada a um dos doze signos, possuindo alguns significados análogos.

           Assim, o “herói (ego) nascente encontra no Ascendente seu batismo de identidade” (CONTRERA, 2000:96), lida com seus valores pessoais na casa 2, conhece seu ambiente próximo na casa 3 e, na casa 4, encontra suas raízes familiares e sua estrutura emocional. Um dos grandes desafios do herói é sair da casa 4, seu mundo comum e confortável, para desenvolver seu próprio ego e individualidade na casa 5. Na casa 6, o herói precisa aprender a lidar com os desafios do cotidiano, trabalhar e cuidar de si mesmo, para, então, poder se relacionar com os outros, na casa 7. Quando o herói se relaciona, sendo a casa 7 a casa dos parceiros e também dos inimigos, aprende a lidar com os valores do outro e ganha intimidade com seus companheiros, assuntos estes da casa 8, que também representa as grandes perdas e os ganhos, as mortes e os processos de mudança. Na casa 9 o herói aprende a expandir suas fronteiras e ir além de seus horizontes. Cria sua filosofia de vida a partir de tudo que já viveu. Na casa 10 o herói tem o desafio de assumir seu papel social e desenvolver uma carreira, encontrando sua vocação e destino. Na casa 11 o herói encontra seu grupo e compartilha suas ideias. É a casa que fala dos grupos a que pertencemos e das comunidades das quais fazemos parte. Na casa 12 podemos dissolver nossa identidade individual e, neste caso, encerramos o ciclo em uma “grande re-união do indivíduo com o Cosmos” (CONTRERA, 2000:96).

Segundo Malena Contrera, a partir deste momento, “o ciclo recomeça com um novo nascimento, o nascimento de um outro herói (ou o mesmo transformado?) ou de um novo dia após esse ciclo de 24 horas” (2000:96).

Essa narrativa pelas doze casas também pode representar fases e idades específicas da vida ou, ainda, pode ser comparada mais objetivamente com a própria jornada do herói descrita por Joseph Campbell.       

Leia também:

slides sobre a jornada astrológica (apresentação)

Referências

CAMPBELL, Joseph (entrevista com Bill Moyers). O poder do mito. São Paulo: Associação Palas Atenas, 1992.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2013.

CONTRERA, Malena Segura. O mito na mídia. São Paulo: Annablume, 2000.

DEL PICHIA, Beatriz. BALIEIRO, Cristina. O feminino e o sagrado: a mulher na jornada do herói. São Paulo: Ágora, 2010.

ELIADE, Mircea. O mito do eterno retorno. Lisboa: Edições 70, 1969.

FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

______. WILHELM, Richard. O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês. Petrópolis: Vozes, 2012.

PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto Maravilhoso. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária Ltda, 2010.

VOGLER, Christopher. A jornada do escritor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

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