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A jornada astrológica na mídia (exemplo dos Cavaleiros do Zodíaco)

A saga astrológica na mídia

 

O mito, muitas vezes na forma de jornada do herói, está presente na mídia. Como diz Christopher Vogler, “as ideias que Campbell expressa em seu livro (O herói de mil faces) estão tendo grande impacto nas narrativas” (2006:47). Segundo ele, “era inevitável que Hollywood se aproveitasse da utilidade da obra de Campbell”.

A narrativa astrológica pode ser encontrada de forma objetiva e/ou subjetiva na mídia. Malena Contrera (2000), por exemplo, relacionou a saga das doze casas astrológicas com a narrativa presente no filme O Rei Leão.

Um outro exemplo é o caso dos “Cavaleiros do Zodíaco”, nascido sob a forma de Mangá, em 1985, mas que já ganhou outros formatos na televisão, no cinema, em livro e em games. Na saga, alguns dos personagens possuem nomes dos signos ou constelações astrológicas. São cinco heróis (cavaleiros) que usam armaduras sagradas baseadas nos signos astrológicos e têm como missão defender a reencarnação da deusa grega Atena.

Em um dos episódios, chamado “A Saga do Santuário”, considerado uma das principais passagens do mangá, dez cavaleiros são enviados ao santuário para proteger Atena. A trama contém vários acontecimentos, entre eles o roubo da armadura de ouro do cavaleiro de Sagitário, nono signo do zodíaco, que é dividida justamente em nove partes, que serão buscadas pelos cavaleiros de bronze.

A saga é dividida em seis partes, o que equivale aos seis eixos astrológicos que se referem tanto aos doze signos como às doze casas. Em um determinado momento do episódio, acontece a Batalha das Doze Casas, que tem como enredo principal a tentativa de purificação do santuário, Saori (reencarnação da Deusa Atena) e os cavaleiros de Bronze. Para garantir seus desejos maléficos, o Grande Mestre convoca os lendários cavaleiros de ouro, os mais poderosos Cavaleiros de Atena. Cada um deles possui um nome e pertence a um dos doze signos astrológicos, na sequência do zodíaco: Mu de Áries, Aldebaran de Touro, Saga de Gêmeos (Falso Grande Mestre), Máscara da Morte de Câncer, Aiolia de Leão, Shaka de Virgem, Mestre Ancião de Libra (seu verdadeiro nome é Dohki), Milo de Escorpião, Aiolos de Sagitário, Shura de Capricórnio, Camus de Aquário e Afrodite de Peixes.

Na primeira casa Mu concerta as armaduras de bronze dos quatro cavaleiros que queriam ser rápidos e tentam passar pela casa de áries. É interessante pensar que o signo de Áries está associado às guerras, às lutas e armaduras. Assim como a Casa 1, representa os inícios, inclusive o começo de qualquer jornada ou aventura. É um signo associado à velocidade, à rapidez.

Na segunda casa, a casa de Touro, os cavaleiros têm dificuldades ao tentar entrar, pois percebem uma “muralha” que mais tarde se descobre que era o corpo do próprio gigante cavaleiro de touro. Curiosamente, Touro é o signo que rege o corpo. É um signo muito mais denso do que Áries, por ser de terra. A casa 2 tem a ver com consolidação e matéria e na jornada do herói pode representar, também, a recusa ao chamado, pois em Touro ou na Casa 2, sempre parece mais fácil manter tudo como está, ficando em sua zona de conforto. Ainda na Casa de Touro, o cavaleiro Seiya corta o chifre de Aldebaran, fazendo também referencia ao próprio signo.

Na terceira casa, de gêmeos, os cavaleiros se deparam com duas casas, com dois caminhos, fazendo analogia ao próprio signo que é representado, mitologicamente, pelos irmãos Castor e Polux. Aliás, o signo de Gêmeos está relacionado ao duplo e às múltiplas possibilidades. Cada um dos cavaleiros segue por um dos dois caminhos. O cavaleiro cego percebe a ilusão de ótica que esconde a saída, mas o outro cavaleiro é atingido por um golpe e é enviado para outra dimensão, diretamente para a casa de Libra que, astrologicamente, possui relação direta com o signo de Gêmeos, por serem ambos signos de ar, conectados por um aspecto harmônico. Outra curiosidade sobre o cavaleiro de Gêmeos, na trama, é ser ele o falso grande mestre, já que este signo também tem como característica a facilidade de se fazer passar por outra pessoa.

Na quarta casa, de Câncer, os cavaleiros se deparam com várias cabeças sofrimento, justamente na casa relacionada ao signo do sentimento e, de certa forma, do sofrimento e do drama. Além disso, se deparam com cabeças de crianças e mulheres, também em referencia ao signo que rege a mãe e a maternidade. O cavaleiro responsável pela casa é o Máscara da Morte, que se encontra justamente na casa na qual o herói astrológico precisa se confrontar com suas raízes e matar certos aspetos de sua personalidade para poder seguir adiante e assumir sua própria individualidade (ego) na casa seguinte. Além disso, nesta quarta cara um dos cavaleiros é jogado de uma cachoeira, justamente a água que faz referencia ao signo de Câncer (a água cardinal e, portanto, a água dos rios e das cachoeiras).

Na casa cinco, a de Leão, encontra-se Aiolia de Leão, o mais poderoso cavaleiro, uma alusão ao signo regido pelo Sol, que tem fama de querer sempre ser o melhor. Na sexta casa, de Virgem, um dos cavaleiros tem seus cinco sentidos retirados, sendo que, astrologicamente, Mercúrio, regente do signo de Virgem, é também o regente desses sentidos. Os cavaleiros são enviados para outra dimensão, talvez uma alusão ao signo de Peixes, signo oposto e pertencente ao mesmo eixo de Virgem.

Na sétima casa um dos cavaleiros é tirado do gelo com as armas de Libra. Este cavaleiro é aquecido com calor humano, justamente no signo e casa que regem os relacionamentos e encontros. O cavaleiro recuperado abraça seu companheiro, que salvou sua vida, e o carrega no colo até a próxima casa, demonstrando a troca existente no signo de Libra e na sétima casa, a dos relacionamentos.

Na oitava casa, a de Escorpião, vários desafios são vividos, na área que, astrologicamente, rege as situações mais extremas e os riscos de vida. Nesta casa é utilizado um turbilhão de gelo e, em contra ataque, agulhas. Em um ato de desespero, o cavaleiro atingido desperta seu sétimo sentido, justamente na casa que rege o que está além, a intuição e a mediunidade. Nesta casa acontecem situações-limite, provas de resistência e coragem. Também nesta casa, a casa da morte, do renascimento e da reencarnação, um dos cavaleiros percebe que Saori é a reencarnação de Atena.

Na nona casa, a de Sagitário, é disparada uma flecha, um dos símbolos que representa o signo astrológico. Nesta casa, que astrologicamente rege os ideias e planos futuros, os cavaleiros confabulam e encontram, juntos, saídas e formas de seguir para a próxima casa.

Na décima casa, de Capricórnio, os cavaleiros encontram uma estátua de Atena, que pode ser vista como uma referencia ao sólido signo que rege a imagem social. Também se assustam com a abertura de uma fenda no chão, no signo que rege a terra. Há uma luta contra um dragão e uma vitória, na casa que fica no alto do céu astrológico e que fala dos resultados finais. Também é interessante o fato de que o cavaleiro de Capricórnio tinha uma honra incomparável, mais uma analogia com o signo.

Na décima primeira casa, a de Aquário, signo de ar fixo, o gelo, os heróis da saga encontram gelo, em uma temperatura próxima do zero. Nesta casa, eles encontram o ar frio que estava concentrado.

Por fim, na décima segunda casa, a de Peixes, os heróis encontram uma rosa e se deparam com Afrodite que, astrologicamente é Vênus, planeta que fica muito bem posicionado em Peixes, por ter uma semelhança essencial. Nesta casa os heróis também corem riscos de intoxicação e de enfrentar uma tempestade nebulosa, ambos referencias aos riscos e desafios piscianos. Nesta casa também é encontrado um caminho secreto e Seiya é salva.

 

Algumas considerações sobre mito, Astrologia e mídia

 

           Por serem informações importantes sobre a vida e as potencialidades humanas, os mitos também estão presentes na mídia, seja de forma direta e objetiva, ou de forma indireta e subjetiva. Isso vale especialmente para a jornada do herói, ou o monomito, como chamou Campbell, já que a aventura ou jornada mitológica reflete aspectos importantes e essenciais da vida humana. O mesmo vale para a jornada astrológica, cujo zodíaco representa a própria história do homem e seus ciclos.

Campbell alertou sobre a necessidade de conhecer nosso centro, aquilo que realmente faz sentido dentro de nós. Também apresentou o mito como um caminho para chegar a este centro. Segundo ele, ao conhecer um mito e ter essa história em mente, ajudar a perceber “sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida” (CAMPBELL, 1992:04). Por isso contar histórias é tão importante. Especialmente histórias repletas de significados, como é o caso do mito, especialmente a jornada do herói, que tem tanta relação com a trajetória de uma vida.

Isso vale especialmente para a jornada do herói astrológico, contada há muitos séculos, seja pela narrativa do Sol pelo zodíaco ou por todos outros ciclos celestes que possuem relação direta com a vida na Terra.

Quando esses conteúdos são inseridos na mídia, sua conexão com o público é imediata, pela ressonância entre interior e exterior, entre o ser humano e a história que está sendo contada. No caso da Astrologia e dos ciclos celestes, essa ressonância vem de longa data, já que foram esses os primeiros ciclos e narrativas com os quais o homem teve contato. Para os antigos, conhecer o céu era questão de sobrevivência, já que dependiam desses ciclos para plantar e lidar com as mudanças climáticas. A partir daí foram criando narrativas que até hoje estão presentes no imaginário e na vida humana e, talvez por estarem tão inseridas no homem, estão também fortemente presentes na mídia.

 

Referências

 

CAMPBELL, Joseph (entrevista com Bill Moyers). O poder do mito. São Paulo: Associação Palas Atenas, 1992.

 

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2013.

 

CONTRERA, Malena Segura. O mito na mídia. São Paulo: Annablume, 2000.

 

DEL PICHIA, Beatriz. BALIEIRO, Cristina. O feminino e o sagrado: a mulher na jornada do herói. São Paulo: Ágora, 2010.

 

ELIADE, Mircea. O mito do eterno retorno. Lisboa: Edições 70, 1969.

 

FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

 

JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

 

______. WILHELM, Richard. O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês. Petrópolis: Vozes, 2012.

 

PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto Maravilhoso. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária Ltda, 2010.

 

VOGLER, Christopher. A jornada do escritor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

 

Revista

 

Almanaque curioso das sagas: segredos das maiores aventuras de todos os tempos. Coleção Mundo Estranho. São Paulo: Abril, 2013.

 

Sites

 

www.wikipedia.org/wiki/Os_Cavaleiros_do_Zodíaco

 

pt.saintseiya.wikia.com/wiki/Saga_do_Santuario

 

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