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A geração ansiosa

E o que podemos fazer para estarmos mais presentes e conectados com a vida real

No dia 19/05/2025 participei do Fronteiras do Pensamento, que aconteceu na Universidade Presbiteriana Mackenzie, que recebeu Jonathan Haidt, autor do livro A Geração Ansiosa. Foi uma palestra poderosa sobre um dos temas mais importantes da atualidade.

Com o tema “A grande reconfiguração da infância: como chegamos até aqui e como podemos mudar o futuro”, o autor apresentou um cenário importante e assustador, que aponta 2010 como o início de uma importante mudança geral, com impactos especialmente fortes para a geração Z, que, na época, chegava à puberdade e teve sua adolescência imersa em internet, especialmente nas redes sociais.

Com pesquisas e gráficos, Jonathan embasou sua apresentação em dados reais e assustadores, que incluem danos para a humanidade, tanto físicos como transtornos mentais, incluindo ansiedade e depressão, entre outros. Esses danos incluem um aumento nos dados de ansiedade e depressão nos últimos anos, especialmente entre jovens, com aumento significativo também nas taxas de suicídio (e tentativas) e auto mutilação.

Jonathan correlaciona esses dados à chegada maciça de smarthphones na sociedade, o que teria piorado significativamente a saúde mental de todos nós, especialmente dos jovens. Ele cita estudos que advertem sobre os riscos especialmente para os adolescentes, quando o cérebro ainda está em desenvolvimento e formação.

Isso tudo teria reconfigurado a infância humana, que saiu do livre brincar para a imersão na internet e nas redes sociais, o que passou a moldar o cérebro em torno do celular. A pandemia piorou ainda mais esse triste cenário.

Além dos danos em termos de saúde mental, Haidt levanta que uma das piores consequências foi a fragmentação da atenção, algo que hoje acontece também com adultos, mas que preocupa especialmente nos jovens. Nossa memória está gravemente afetada e não conseguimos mais prestar atenção ou estar presentes o tempo todo. Ler um livro parece mais desafiador, assim como estar atento por muito tempo em qualquer coisa. Nos acostumamos a passar os olhos em vídeos curtos e informações fragmentadas, o que tem comprometido memória, atenção e presença.

Isso significa que há uma espécie de emburrecimento coletivo, na qual alunos não conseguem mais ler livros nem prestar atenção nas aulas, o que também tem causado um impacto em termos de desempenho escolar. Jonathan cita uma espécie de podridão mental que vem nos assolando, piorando nossa capacidade de concentração e trazendo grandes danos à capacidade humana de pensar, incluindo adultos.

Em pesquisas recentes, essa dificuldade na leitura já chega em 20%, uma vez que estar atento a coisas mais longas tornou-se algo chato e desafiador. Há uma erosão na capacidade de foco, no esforço e dedicação.

O autor e palestrante ainda aponta que há diferenças nos impactos entre meninos e meninas. As meninas tendem a ser mais fortemente impactadas pelas redes sociais, especialmente na comparação que surge, com filtros e regras de beleza, entre outras coisas. Já no caso dos meninos, a tendência é o vício em jogos e pornografia, com uma monetização constante de sua atenção nas redes e a dopamina que tudo isso produz. Isso tem retirado meninos cada vez mais do “mundo real”, levando as meninas a terem mais sucesso, da escola ao doutorado. Ele cita a permissão que as empresas têm para viciar esses meninos com os jogos e vídeos construídos especialmente com esse foco.

Um ponto bastante preocupante apontado na palestra foi a falta de propósito que acompanha a geração Z. Em pesquisas, um número significativo não vê utilidade ou propósito em sua vida. E isso aumentou após 2010, confirmando sua teoria. No geral, pessoas da geração Z não consideram sua vida útil.

Mas, apesar do cenário assustador, Jonathan nos propõe alternativas e nos convida a repensar tudo isso. Como pontuou em um vídeo que abre sua palestra, ainda há como trazer nossos filhos de volta para casa. E melhorar o contexto geral.

São basicamente quatro pontos que tendem a fazer uma diferença muito significativa. Para isso, é preciso que pais, familiares, escolas e governos participem, uma vez que, segundo Haidt, apenas combinando a atitude de pais com políticas públicas conseguiremos fazer isso em larga escala.

A primeira sugestão é que adolescentes não tenham celular até os 14 anos. Além disso, que não tenham redes sociais até os 16 anos. Isso os protege em uma fase importante, na qual seu cérebro ainda está em formação e desenvolvimento e, segundo Haidt, após os 16 eles ainda tem como dominar a tecnologia para seu futuro pessoal e profissional, mas já com mais maturidade, até para evitar uma série de riscos que temos visto acontecer. A terceira proposta é de que não seja permitido o uso de celular na escola, nem nos intervalos e contra-turnos. E isso já é uma conquista aqui no Brasil, o que foi citado na palestra, que contou com a presença de muita gente do Movimento Vamos Juntos? Desconecta. Por fim, a quarta estratégia é dar autonomia, independência e responsabilidade para os jovens na vida real. Seja deixar a criança ou o adolescente comprarem alguma coisa no mercado, preparar um café da manhã e fazer suas tarefas da escola sozinhos, mas oferecer oportunidades para que sejam autônomos, independentes e responsáveis desde cedo. Esse viver a vida real inclui tempo de qualidade com esses jovens, servindo de exemplo, também longe das telas e redes sociais. É ensinar a ficar mais tempo em uma tarefa, prestar atenção em um filme de uma ou duas horas, por exemplo, contar histórias e ler juntos.

Jonathan chama as telas de “chupeta digital”, que gera um ciclo de dopamina que deve ser evitado. E nos lembra que não começar é mais fácil do que parar. Por isso, evitar que crianças e adolescentes tenham celular desde cedo é importante. Ele nos lembra, ainda, da importância dos jovens não terem telas no quarto e reforça que tablets e computadores, apesar de menos viciantes, também incluem essas telas.

Ele nos lembra da importância do brincar na infância, de escrever à mão e interagir socialmente com outras pessoas. Até porque são coisas que têm se perdido e, segundo ele, os riscos do momento incluem esse distanciamento afetivo. Com a fragmentação da atenção e a dificuldade de estar presente, até mesmo se relacionar com inteligência artificial acaba parecendo mais interessante do que se relacionar na vida real.

Para ele, nossa missão agora deve ser devolver a infância para as crianças, para que seus cérebros deixem de ser formados em torno do celular para que elas possam ter uma infância saudável restaurada. A inteligência artificial, para ele, ainda pode piorar esse cenário. Os jovens tendem a ter mais amizade nesse universo do que na vida real, já que a inteligência artificial pode alimentar muito mais suas fantasias. Fica mais fácil se apaixonar pela IA do que por uma pessoa de verdade.

Mas é importante lembrar que ele não é contra a tecnologia e nos lembra do quanto ela é útil em nossas vidas. O problema é o uso e a relação que desenvolvemos com isso tudo. Inclusive, ao facilitar muita coisa, a internet tem diminuído a capacidade de resolver problemas e isso, no caso dos jovens, é mais um problema. Com muita tecnologia desde cedo, passamos a não pensar e não esperar mais com a facilidade de antes. Segundo Haidt, inclusive, tendo acesso a tudo isso apenas após os 16 anos é que estamos de fato preparando um jovem para dominar o mundo digital com maturidade para sua vida profissional no futuro.

Enfim, repensar tudo isso pode ajudar a dar de volta sentido e propósito na vida.

Por fim, tive a sorte de ter meu livro autografado por ele e de fazer uma pergunta pessoalmente para ele. Contei que tenho uma filha de 10 anos e perguntei se podemos ter esperanças já para essa geração. Ele me respondeu que sim, que estamos em tempo e podemos ter esperança. E confirmou isso no autógrafo que me deu. Sei que saí um pouco angustiada, mas muito esperançosa, até pela quantidade de pessoas ali presentes, algumas das quais muito ativas no momento nesse tema, gente que tem feito diferença em termos de conscientização e atitudes concretas para mudar o triste cenário no qual temos vivido. Também fiquei feliz de encontrar a coordenadora da escola da minha filha, com um quentinho no coração de que tenho feito escolhas certas, quanto à escola e quanto a forma como temos lidado com o assunto em casa. Convido a cada um de vocês a refletir sobre isso, sejam vocês pais ou não, porque as novas gerações são nosso futuro e temos tempo de rever os rumos que estamos tomando.

E o que a Astrologia diz sobre isso?

Esse é um tema, inclusive, sobre o qual temos estudado muito dentro da Astrologia e é bastante curioso que tudo começou com Saturno em Virgem, no oposto de onde está hoje, com Júpiter e Urano no fim de Peixes, onde hoje temos Saturno e Netuno (entre o fim de Peixes e o início de Áries). Netuno, na época, estava em Aquário, quando a internet realmente se popularizou e nos conectamos de um jeito diferente. Agora, é Plutão quem está chegando por ali mostrando seus efeitos e impactos. Temos uma configuração atual que nos coloca diante de resultados, mas que também nos permite repensar e tomar novos rumos, desde que tenhamos consciência e atitude para isso. É importante deixar claro que não temos que ser contra a tecnologia. Ela nos ajuda, e muito. Ela é útil e pode ser nossa aliada. O que precisa ser repensado é justamente a relação que temos com isso isso.

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