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6 atitudes para desacelerar na prática

No último dia 22 de setembro, o Desacelera SP realizou o DIA SEM PRESSA | SLOW DAY. Foi o primeiro festival da cultura slow do Brasil. Tive a honra e o prazer de estar a frente deste projeto, que presenteou a cidade de São Paulo com uma data para repensar as relações humanas e o tempo na cidade e reuniu pessoas, projetos e organizações que buscam o bem-estar, a convivência e a vida simples na cidade.

Um dos maiores desafios que enfrentamos enquanto projeto que pretende buscar a desaceleração na cidade de São Paulo é justamente a questão: é possível desacelerar aqui, nesta cidade que é o epicentro da pressa?

Sim! Desacelerar é pra todo mundo! Claro que uma das escolhas possíveis é sair da cidade grande. Mas as metrópoles são cidades com múltiplas possibilidades, inclusive desacelerar.

Desde que começamos o projeto, com um Guia que mapeia lugares, projetos e iniciativas conectadas com o conceito slow na cidade de São Paulo, percebemos que existe um movimento consistente e robusto de pessoas que querem desacelerar sem sair da cidade.

Lembrando que desacelerar não é ser devagar ou lento, mas problematizar a pressa e a velocidade e perguntar quando elas fazem sentido e quando não fazem. E a partir desta reflexão, fazer boas escolhas de tempo, envolvendo as suas prioridades e não necessariamente as urgências externas, do mundo.

Desacelerar tem a ver com estar presente, com atenção plena, priorizar as relações importantes, conviver, cuidar, pensar na suficiência do que se consome, consumir menos, ter simplicidade e desfrutar.

Na relação com a cidade, tem a ver com reduzir os ruídos da pressa e estar bem e presente onde se está e com quem se está. Mesmo que a velocidade em alguns casos seja necessária. Nesse sentido, todo mundo pode desacelerar. É uma escolha possível mesmo para quem tem uma vida muito corrida.

No DIA SEM PRESSA, foi possível experimentar diversas vivências, reflexões, e atitudes para uma vida mais simples e desacelerada.

Neste texto, eu resgato algumas atitudes que podem melhorar a sensação de correria. Nem sempre elas são simples. E todas demandam um processo de autoconexão e autoconhecimento. Mas o efeito é imediato. E traz um sensação de paz interior que vale a pena!

1. Cuide das relações que são importantes para você

Quem são as pessoas mais importantes na sua vida? Como elas estão presentes no seu cotidiano? Quantas vezes você as encontrou neste ano que está acabando? Nestes encontros, você esteve presente de fato, em conversas profundas ou em silêncios reveladores, mas em encontros de troca de afeto e plenitude? A escuta atenta, a atenção plena e a presença são fundamentais para um caminhar mais lento.

2. Perceba (e questione) as suas escolhas de tempo

Como você usa seu tempo? Como distribui suas 24 horas de cada dia e os dias da semana em relação ao que gostaria e ao que deveria fazer? O que ocupa mais tempo em sua vida hoje? O que você gostaria que ocupasse mais? Perceba as suas escolhas de tempo e tome as rédeas destas escolhas para você. Pergunte(-se) quando a velocidade faz sentido e quando não faz. Não se trata de “gestão do tempo”. Trata-se de consciência e autonomia temporal. Claro que algumas escolhas são possíveis e outras não; mas percebê-las já é um passo importante para compreender onde é possível mudar e onde é preciso acomodar. Às vezes a transformação está justamente em um movimento interno, de percepção sobre suas escolhas de tempo. A velocidade é violência e a pressa é uma dinâmica social que elege a agilidade como coisa positiva. Muitas escolhas, portanto, estão submetidas a convenções sociais. Mas a consciência é transformadora e é o primeiro passo para conquistar a autonomia.

3. Fale (e mude seu discurso) sobre o tempo da vida e das coisas

Quantas vezes você já respondeu uma mensagem só para não parecer lento? Quantas vezes esta reação rápida não necessariamente atendeu à demanda do seu interlocutor, mas você reagiu mesmo assim, apenas para dar conta da velocidade como demanda colocada e não dita? Precisamos falar sobre o tempo. E não apenas na perspectiva da falta de tempo, da pressa, da indisponibilidade, de que precisamos de mais tempo. Precisamos falar sobre os combinados de tempo. Quando mudamos combinados e formas de lidar com o tempo, estamos promovendo pequenas grandes transformações. Em vez de responder aquela mensagem rapidamente e sem sentido, responda dizendo que vai responder com calma assim que puder cuidar dela com a atenção que ela merece. Experimente problematizar prazos e atrasos. Experimente dizer “obrigada por me esperar”; em vez de “desculpe pelo atraso”. Falar sobre o tempo é importante para construirmos novas relações com o tempo.

4. Faça uma coisa de cada vez; seja monotarefa

Vivemos na sociedade do desempenho, que valoriza o “multitasking” (a capacidade de fazer muitas coisas ao mesmo tempo). Na prática, estamos nos revezando de tarefa em tarefa, sendo inefetivos. Perdemos coisas e esquecemos de coisas importantes. Atendemos em ritmo frenético a urgências e não conseguimos dar conta do que são as nossas próprias prioridades. Muitas vezes, pode ser melhor fazer uma coisa por vez, sequencialmente e com atenção plena.

5. Tenha consciência da sua relação com as tecnologias e fique mais tempo offline

Você precisa mesmo olhar aquela mensagem assim que o aparelho apita? Precisa mesmo estar online tantas horas por dia? Ou precisa mesmo conversar por programas de mensagem enquanto almoça? As tecnologias são “ladrões de tempo” na vida contemporânea. Muitas vezes, o “fluir” nas redes sociais, por exemplo, está relacionado com os poucos momentos de entretenimento a que você tem direito no seu dia. Não queremos que você os abandone. Mas pense que você poderia administrar melhor a sua relação com os aparatos tecnológicos e as telas em geral e garantir mais tempo de presença e atenção plena, seja com você mesmo, seja com outras pessoas e relações importantes para você.

6. Faça mais pausas

O mundo te pressiona a correr. Parar é um grande esforço. É difícil encontrar na sua agenda apertada e cheia de compromissos tempo para fazer um trecho do seu deslocamento diário a pé, contemplar a cidade, a rua, as pessoas; um tempo para refletir; um tempo para escutar alguém; para ouvir uma música; para almoçar com calma. Imagine um tempo para não fazer nada! Um tempo para não (se) ocupar?! Este tempo é ainda mais raro! Permita-se este tempo sem culpa. Tenha em mente que a pausa não deve servir apenas para recobrar o fôlego para voltar ao trabalho. A pausa é para você. Desfrute. E não se culpe por ficar um tempo sem fazer nada. A pausa é vital para um corpo saudável e para uma vida mais fluida.

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